Ontem fiquei sabendo por um amigo do falecimento do vocalista da lendária banda Porc’s Cutlet (vulgo Porcs).
Não conheci o Guilherme, mas fomos contemporâneos na cena musical independente na Porto Alegre do fim dos anos 90 e início dos anos 2000. Provavelmente batíamos em idade. Eu era integrante de uma banda chamada Sensifer. Me aproximei um pouco tarde demais do círculo musical com influências mais calcadas no hardcore (do qual a Porcs fazia parte). Então infelizmente peguei uma única apresentação deles no Espaço Tear, mais uma das casas de shows que pipocaram por esse período na esteira do mítico Garagem Hermética.
Era perto do verão de 2002 e lembro de pisar no lugar e já sair suando profusamente, como é natural quando se está na capital gaúcha entre novembro e março. Acho que esse show marcava um retorno da banda depois de um hiato. Ou era apenas um pequeno milagre como quase todo show que acontecia nessa época: pessoas tinham seus trabalhos ou estudavam e torravam grana que não tinham em estúdios, aluguel de equipamento, confecção de cartazes, pagamento pra reservar o espaço que geralmente dava prejuízo pois a bilheteria nunca seria o suficiente e mais um monte de perrengues. Tudo em nome da música e de poder se expressar num ambiente que permitisse atingir um certo nível de catarse.
Já tinha visto vários exemplos de público pirando com a música, mas lembro vividamente a sensação de estar presenciando algo um pouco mais elevado. As pessoas gritavam com o vocalista, invadiam o palco e roubavam o microfone, ou simplesmente alguém da banda ia para o meio da galera e parecia nem querer voltar. Por sorte eu já tinha uma câmera digital rudimentar que obviamente era avançadíssima para aquele ano. Fui garimpar meus arquivos e fiquei muito grato de encontrar alguns registros com aquela vibe inconfundível do início do século 21: muitas cenas borradas, olhos vermelhos de flash mal colocado e os inconfundíveis fantasminhas de luz que teimavam em se intrometer.
Ao remexer com uma certa dose de nostalgia nessas memórias, me senti sortudo por ter podido testemunhar o talento da Porcs e do Guilherme naquela fatídica noite de 2002. Que possa ter um renascimento auspicioso.
Mais registros musicais da Porcs, inclusive desse show no Tear, podem ser encontrados nessa playlist no Youtube.
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