
Levo semanas, talvez meses para admitir que tenho um novo hiper-foco. Ele fica ali tentando escapar pelas frestas e enquanto isso vou alimentando o bicho de forma caótica achando que ele simplesmente desistirá. Até que um dia ele arromba a porta e sai por aí assobiando.
Na verdade, venho entretendo a ideia de fazer espresso em casa pelo menos desde a pandemia. Mas os anos se passaram e continuei a explorar o universo do café gourmet utilizando meu método preferido, que é o clássico filtro de papel. Sendo assim, me aprofundei violentamente nessa técnica, indo atrás de diversos vídeos no Youtube e adquirindo acessórios antes totalmente dispensáveis, como uma balança e um moedor elétrico de precisão, além de chegar a absurdos como evitar filtro de papel branco pois estava começando a sentir o gosto do químico usado na sua confecção.
A chave virou alguns dias atrás depois de passar meses pesquisando sobre máquinas caseiras de café espresso. Queria algo compacto e de preço acessível, pois nesse universo até mesmo os aparelhos considerados ideais para iniciantes custavam cinco vezes mais do eu que estava disposto a pagar. Adquiri então a Delonghi Dedica EC685 , que está no mercado há anos e consegue fazer um espresso bastante aceitável por padrão. Mas se esse fosse o objetivo, teria sido mais lógico comprar uma Nespresso ou algo semelhante.
A promessa dos fóruns especializados era que, por ser tão popular, esse modelo se beneficiaria de uma imensa comunidade de entusiastas que, além de compartilhar conhecimento, teriam documentado tudo a respeito, incluindo os melhores acessórios, upgrades de peças feitas por terceiros de forma profissional e até mesmo modificações caseiras extremas e de suposto baixo risco para quem não tem medo de brincar com ferro e fogo.
Nos primeiros dias fiquei satisfeito em compreender e aplicar os parâmetros pregados pelo manual: encher o compartimento de água, escolher a cesta de café simples ou dupla, depositar nela o grão recém moído, encaixar o portafilter na máquina e apertar o botão. Tirei uns espressos aceitáveis, mas aí voltei aos fóruns e percebi que estava fazendo tudo errado.
Nos dias e noites que se seguiram, foram momentos febris testando moagens mais grossas ou finas, pesando água e cronometrando o tempo até o produto final na xícara, descobrindo que moer café de torra mais escura gera um produto final diferente em termos de massa comparado com torras mais claras e…adquirindo alguns acessórios que prometiam mais flexibilidade, mais controle, menos facilidade e mais dor, porém com muito mais sabor.
E valeu a pena todo o trabalho? De forma pragmática, devo dizer que estou bebendo mais café, o que é um mau hábito. Bons hábitos para equilibrar: começar um hobby novo, resolver pepinos, aprender com os muitos erros e ir atrás de ajuda e conhecimento.
Fico exausto só de recapitular a jornada até aqui. E nesse espírito devo dizer que entendo totalmente relatos de chefs que dizem só querer comer fast food ou comida congelada depois que chegam em casa do trabalho. Por que sim, mesmo com tantas facilidades modernas, a verdade é que se alimentar (ou fazer café) direito é um delicioso martírio.
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