#1
Não me lembro se morava em São Paulo ou Porto Alegre, mas foi quando cursava o primeiro grau. Alguém falou “daí eu dei um ‘drops’ nos peito dele”. Fiquei escutando o relato do que seria alguma espécie de briga meio de longe, mas lembro do que consistia a técnica: era basicamente uma voadora de lado, dada com os dois pés. Só fui tentar retomar o termo anos mais tarde, na grande febre do Street Fighter 2. Mas desde então o golpe acabou virando A Voadora do Zangief.
#2
Isso era em São Paulo. Até pesquisei um pouco para ver se encontrava a origem, mas na minha infância por lá era comum chamar “bala” de “drops”. Ou mesmo “bala drops”. Sei que é um termo comum para se referir a mil tipos de doce, mas não encontrei o nexo causal para este ficar tão predominante por lá. Acho que até me choquei quando, de volta a Porto Alegre, meus amigos chamavam “Drops Garoto” de “Pastilha Garoto”.
#3
Eu ficava absolutamente maluco com a maneira como o palhaço Bozo abria um picolé Galak na hora de fazer merchandising da finada Yopa no SBT. Ele delicadamente levantava duas abas na parte de baixo do sorvete e voilá: o plástico saía como se fosse uma luva. Tentei fazer isso dezenas de vezes, mas sempre acabava com o saco rasgado na diagonal ou forçando a barra até o palito trincar.
#4
É meio vilificado pelos fãs, mas não importa quanto tempo passe: sempre que boto o Wild Mood Swings do The Cure pra tocar é uma viagem ensolarada para 1996. Que disco bem bom, que salada de peso serião e duro misturado com uns vaudevilles doidos e alguns dos melhores refrãos da década. Além de uma das melhores aberturas de disco de todos os tempos, tive sorte de pegar esse petardo ao vivo e nunca esquecerei.
#5
Um belo apanhado da carreira e vida do Wim Wenders no Observer. Aproveita a repercussão do seu último filme, “Perfect Days”, para examinar questões onipresentes na sua obra. Uma perspectiva de quem levou décadas, mas finalmente parece ter se encontrado.
Tanto “Perfect Days” quanto “Fallen Leaves”, do Aki Kaurismäki, me proporcionaram um estado de fuga e contemplação que há tempos não encontrava no cinema. Em épocas em que quase toda produção audiovisual é too big to fail, dos seriados a blockbusters e até mesmo algumas produções estrangeiras incensadas pela Academia, é revigorante ver dois diretores tão distintos não hesitando em produzir arte profundamente autoral e sem compromisso com entregar tudo de bandeja.
#6
Tim Berners-Lee, o inventor da World Wide Web, publicou uma carta aberta com diagnóstico e propostas para retomar o espírito original da rede. Acredito que supera a mera nostalgia de “no meu tempo que era bom” justamente por olhar para frente. Essa publicação vem dois meses depois da fala de Cory Doctorow em janeiro sobre o seu conceito de enshittification que, apesar de encapsular bem mais do que a doença que acomete a internet contemporânea, também aponta a gravidade da crise sem se furtar de pautar soluções para o problema.
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